A Península Arábica é uma grande exportadora e consumidora de combustíveis fósseis, uma realidade que molda suas visões de futuro e o papel da arquitetura e do planejamento urbano. No entanto, alguns escritórios de arquitetura emergentes estão desafiando essas narrativas por meio de pesquisas contextuais, reformulando a produção arquitetônica da região. A Civil Architecture, por exemplo, é conhecida por seu trabalho provocativo que explora narrativas alternativas para a identidade do Oriente Médio.
Ali Karimi, da Civil Architecture.
Christele Harrouk, da ArchDaily, entrevistou Ali Karimi (co-fundador da Civil Architecture, com Hamed Bukhamseen) no Bahrein. A entrevista aborda a prática arquitetônica na região do Golfo e a abordagem narrativa e focada em pesquisa da empresa.
Contextualizando a Arquitetura na Península Arábica
A abordagem da Civil Architecture para arquitetura e pesquisa envolve a identificação e exploração de temas específicos, iniciando cada projeto com uma pergunta guia. Eles chamam isso de “espacializar e recontextualizar” a Península Arábica. Isso ficou evidente em sua instalação na Bienal de Design de Doha de 2024, uma recriação do telhado e do layout de uma “Casa entre duas árvores”, explorando sua conexão com o jardim e a paisagem circundante, destacando a sazonalidade e a integração com os ciclos naturais.
Instalação da Civil Architecture na Bienal de Design de Doha de 2024.
Inspiração
“Como um escritório com sede na região, estamos muito interessados em explorar o que significa produzir arquitetura de uma forma que contrarie as narrativas da economia do petróleo. Estamos tentando encontrar fontes de histórias e maneiras de pensar sobre arquitetura e urbanismo fora dessa narrativa. Produzir esse tipo de arquitetura significa produzir um contexto por meio da prática. Isso significa conduzir projetos de pesquisa e encontrar maneiras de entender o lugar em que estamos, compondo assim uma visão totalizante de nosso contexto.” – Ali Karimi, cofundador da Civil Architecture.
— Ali Karimi
Paraísos Menores: Uma Intervenção Paisagística Temporária
Em colaboração com o studiolibani (um dos Novos Escritórios de 2020 da ArchDaily), a Civil Architecture criou a instalação paisagística temporária “Paraísos Menores” em Amã, Jordânia, para a Semana de Design de Amã de 2019. A instalação gerou discussões sobre a paisagem de Amã e suas representações idealizadas. Referenciando a história da região como grande exportadora de pedras, uma praça pública temporária recriou a materialidade dessa paisagem habitável. Usando areia, agregados e pedras emprestados de empreiteiros (devolvidos posteriormente), a intervenção criou um espaço envolvente com orçamento limitado, mostrando a importância de entender o contexto local e trabalhar com as condições existentes.
Instalação Paraísos Menores em Amã, Jordânia.
Obras Construídas e Não Construídas: Pesquisa e Prática
A Civil Architecture se envolve com projetos construídos e não construídos, pesquisas e publicações, cada um informando o outro. Sua publicação, “Arquitetura Estrangeira, Política Doméstica”, explora os empreendimentos políticos e arquitetônicos do Kuwait, particularmente sua construção de mais de 5.000 postos de gasolina na Europa, revelando narrativas de espacialidade e limites nacionais, mostrando “a arquitetura como uma unidade de capital político”. Projetos construídos, como um parque público em Riad, mostram paisagens produtivas, enquanto seu trabalho no Pavilhão do Kuwait para a Bienal de Veneza de 2026 explora narrativas compartilhadas dos estados do Golfo sob a perspectiva das ilhas contestadas da região.
Inspiração
“Para nós, trata-se de construir pontes entre o que existe, o que existiu e o que poderia existir, mas não em uma escala de tempo que esqueça tudo o que está atualmente em jogo na esperança de um futuro arquitetônico mais otimista, um futuro que não está realmente a serviço de tornar as coisas sustentáveis.” – Ali Karimi, cofundador da Civil Architecture.
— Ali Karimi
O Presente Estendido: Uma Nova Narrativa Arquitetônica
Karimi conclui discutindo a evolução da prática arquitetônica no Golfo, defendendo uma narrativa do “presente estendido” em vez de um futurismo agressivo. A abordagem da Civil Architecture se concentra em temas atuais, explorando narrativas ocultas e interagindo com o contexto existente. Ele observa o surgimento otimista de mais empresas que rejeitam as narrativas “tabula rasa” e abraçam pesquisas e trabalhos enraizados na cultura e história locais.
Nota do editor: Este artigo foi publicado originalmente em 18 de julho de 2024.
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